tornou-se obrigação para o meu corpo depois que fiquei doente. Eu tinha sim a obrigação de viver, de carregar um coração pulsando forte para provar a mim mesmo que eu era capaz de vencer e ficar aqui junto aos meus, sem a doença que me calejava a alma.
Até contava, em um ano fizemos 24 viagens eu e minha mãe. Meu tratamento foi difícil, passei por momentos de extremo desespero em que perdi os sentidos, sem entender o que eu estava vivendo, precisava das minhas forças - que eu desconhecia - mas eu tinha as da minha família que jamais me abandonou. Minha mãe foi a força inabalável que me segurou as mãos nas minhas crises de revolta e medo, ela sentiu comigo todas as dores que senti.
Nunca consegui entender o grau de sacrifício que se precisa para alcançar a plenitude da vida. Mas há batalhas que só a gente vence, e naquele hospital frio a saudade de todos lá de casa me apertava o coração. Durante o dia eu olhava da janela imensa e úmida daquele hospital minha mãe lá em baixo. Eu odiava aquela janela, ela me separava da minha força, dos braços quentes da minha mãe. Eu chorava com as mãos coladas na janela, ela chorava segurando a sacolinha de pães doces que comprava para meu café da manhã. Ela era proibida de entrar naquela ala do hospital que eu estava internado...
Parte da minha próxima obra que conta a história real de alguém que viveu aqui, alguém que sofreu as dores e o preconceito de ter Aids...
Rejane Tach