sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O DIA DA SUA AUSÊNCIA

Não dei conta da sua ausência
no dia em que partiu
sem alarde.
Foi um dia desses
que se perderia na memória
como tantos outros dias iguais
se perderam
nãop fosse pelo que foi.

Não dei conta do que senti
no dia em que partiu
sem propósito.
Nada me anunciou este acontecimento.
Os móveis soturnos...
os quadros processionais...
a manhã abafada e melancólica
dessa melancolia que escapa das coisas
de não estar sendo o que são.

Melhor se esquecesse este dia.
Ainda assim ficaroia o dia
anterior ao dia em que partiu
sem renúncia.
Um dia ermo de adjetivos,
de olhares perdidos no horizonte breve,
de reticência e ranger de dentes.

Antes esquecesse também esse dia.
Ainda assim ficaria o dia
anterior ao dia que antecedeu o dia em que partiu
sem catarse.
Um dia de sorriso ambíguo,
sem uam, sequer ilação
que pontificasse a existência
e adormecesse os anjos.

Não há como, afinal, o esquecimento.
Assisto a desastrosa romaria
dos dias que chegam, seguindo
o dia da sua partida.

Percebo a estranha ironia
e abraço a sua presença.
Estava comigo somente
no dia da sua ausência.

DANTE GATTO

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