quarta-feira, 15 de abril de 2009

Insanos?

“... há o seu quê de razão na loucura”. Nietzsche



O tratamento de pessoas com problemas mentais até a metade do século XX resumia-se num confinamento em hospital psiquiátrico. ( E hoje...?) As pessoas nessas condições ficavam sem atividades e reclusas em celas minúsculas e sujas. A partir da década de 70 tais métodos desumanos de tratamento vieram a público, e profissionais e médicos da área começaram uma “reforma psiquiátrica”.
Em países desenvolvidos os pacientes mentais são tratados de maneira mais humana visando a ressocialização e não confinamento. Segundo Clarisse Werneck, no Brasil o tratamento dos doentes mentais ainda são inadequados (choques elétricos e sedativos), situação que persiste por falta de fiscalização e de repasses de verba insuficiente.
Em 2004, o Ministério da Saúde lançou um programa de reestruturação de assistência hospitalar aos doentes mentais, cujas metas são a redução do número de leitos psiquiátricos e a ampliação da rede extra-hospitalar. Porém o atendimento está longe do ideal, e o Caps (Centro de Atendimento Psicossocial), ainda não existe em número suficiente para atender a demanda populacional.
O objetivo do Caps é oferecer atendimento a população realizando um acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, fortalecimento de laços familiares e exercícios dos direitos civis.
Para Clarice a sociedade vê o doente mental como uma peça defeituosa, esquecidos e renegados, são pessoas que poderiam se reintegrar a vida em sociedade com seus direitos e deveres, se tivessem claro, uma casa para voltar... no entanto, muitos deles não têm referencial algum no mundo externo ao hospital psiquiátrico.
De acordo com especialistas, na doença mental a intervenção precoce facilita o tratamento e evita o agravamento do problema assim como outras enfermidades. Se o paciente receber terapia, medicação e atendimento psicossocial adequado é possível evitar a esquizofrenia.
Na Grécia antiga, os filósofos Platão e Aristóteles foram os primeiros a elaborar teorias sobre a natureza da alma e seus transtornos. Hipócrates, considerado o pai da medicina sistematizou os conceitos já existentes: manias, histerias, paranóias e melancolias. Foi na Idade Média que portadores de transtornos mentais começaram a ser marginalizados e queimados em fogueiras sob a crença de que estavam possuídos pelo demônio. A partir do século XV asilos começaram a receber portadores de transtornos, prostitutas e vagabundos. A partir do século XVII até o século XX, os asilos foram destinados somente aos “loucos” que ficavam excluídos do convívio social sem nenhum tipo de tratamento. O primeiro asilo psiquiátrico foi fundado em Valência, em 1410 na Espanha.
Segundo a psicóloga Patricia Miranda da Caps, é importante que o paciente além de receber a medicação adequada, esteja inserido na sociedade, trabalhe, estude e conviva com sua família. Para ela é importante que as famílias também recebam apoio e suporte, pois os parentes também ficam cansados e adoecidos. Esse procedimento de apoio evitaria o preconceito e o abandono dos doentes.
O fim das internações psiquiátricas é uma das questões mais polêmicas que envolvem profissionais da área, pois existe o argumento de que o próprio paciente não aceita conviver com a família, ademais famílias estariam aceitando o retorno de seus doentes pelo reforço ao orçamento com mau uso do dinheiro. Outro argumento é de que, a maioria dos moradores de rua apresentam transtornos mentais e que existem casos de extrema necessidade de internação.
O Movimento Antimanicomial teve início na década de 70 com a participação de profissionais da área de saúde mental, doentes e familiares de doentes. Foram reivindicadas amplas reformas psiquiátricas no país, porém ainda sem resultados. Com o processo existe a Lei 10.708 de 2003 que prevê a desativação gradual dos manicômios para aqueles que sofrem de transtornos mentais possam viver livres na sociedade.


Rejane Tach

Nenhum comentário: