sábado, 21 de fevereiro de 2009

DO NÚCLEO WLADEMIR DIAS PINO

FEMINILIDADE NA POESIA

DO SÉCULO XIX AO CONTEMPORÂNEO DE MARILZA RIBEIRO

A feminilidade está mais presente atualmente na poesia, e vem com mais ousadia e furor – apesar, claro, de existir ainda um grande recolhimento na escrita feminina por conta do preconceito advindo de um paternalismo descabido não tão longe daqui como se pensa. Analisamos assim desde o século XIX as supostas “ousadias” de poetas que escreveram sem medo seus desejos. Perguntamo-nos então: como produzir uma escrita sem constrangimento em que a mulher pudesse falar de seu corpo e seus anseios sem a fusão do maternal ao qual ela se submete? Segundo Walnice Galvão: “a verdade é que a mulher, e em conseqüência, a poeta, dificilmente consegue usufruir com conforto e expressar sem culpas sua sexualidade envergonhada”. Existe sim, ainda, a vergonha de expor os desejos, falar do corpo, do sexo, sem chocar, sem causar um estranhamento negativo, sob um pensamento retrógrado de que a mulher só poderia escrever ao que de fato pertencia à ela; “a poética feminina parece girar sempre em torno do eixo amoroso” confirma Lucia Castelo Branco. Isso significa dizer que a escrita feminina está ainda muito voltada aos sentimentos de mãe, matrimônio, procriação e amor eterno.
Foi na década de trinta que o sujeito literário se assumiu mais fortemente como mulher, inclusive questionando o padrão dominante da época. E surgiu na poesia o nome de Cecília Meireles (1901–1964), considerada ainda a grande expoente da literatura feminina no Brasil. A escritora rompeu tabus e refletiu através da sua poesia a busca incessante da identidade, e assumiu que é possível escrever o mundo através das palavras de uma mulher. Com um lirismo aguçado e muita sensibilidade, a escritora penetrou nas razões da existência humana e deixou que a voz da mulher viesse à tona.
Porém, bem antes de Cecília Meireles, algumas escritoras agitaram os bastidores literários no século XIX: Julia Lopes, Francisca Julia, Gilka Machado e Florbela Espanca. Precursoras da literatura feminina, no Brasil elas enfrentaram um verdadeiro alvoroço no meio literário.
Em meio a essa trajetória da feminilidade na escrita, faz-se bastante nítida a busca da identidade da mulher como ser que tem voz própria, e não mais se expressa pela voz do masculino. Com tantas rupturas e liberdades, é bem possível que a voz da mulher esteja cada dia mais evidente, absolutamente autêntica, em nossa literatura.
Na década de 70, surge Marilza Ribeiro, poetisa mato-grossense, com uma poesia sensivelmente engajada no social, ou seja, a voz da mulher se faz presente em questionamentos e denúncias. São problemas do cotidiano que Marilza tenta desvendar sobre a condição de ser mulher no contemporâneo em meio a conflitos e buscas.
Nos recortes poéticos da escritora, percebe-se o descontentamento de ser a mulher vista apenas como transeunte da vida. Ela explicita a necessidade de fazer pulsar a vida em sua condição de mulher amada e significativa. A autora reforça bastante a idéia de submissão em suas poesias, porém se faz explícita a voz feminina pelo coletivo. Não se trata de um anseio isolado ou solitário.
Marilza se revela amplamente social e faz da sua poesia instrumento de várias vozes de denúncia e repúdio a dominação. O eu-lírico apesar de se inserir por vezes como mulher, está centrado num todo, não se pode assim dizer unicamente da mulher, mas de todo ser que sofre as mazelas do cotidiano.
A referência da feminilidade em sua poesia é de compromisso com o coletivo, ou seja, a voz da poetisa falando por muitos eus.
Yasmin Nadaf, crítica literária, registra Marilza como uma das principais escritoras contemporâneas com escrita elegante, desabafos e estética ideológica voltada aos eus do mundo, usando recursos metafóricos para significar e reinventar a vida cotidiana do indivíduo reprimido.

Rejane Tach
Estudante da UNEMAT e pesquisadora do Núcleo Wlademir Dias-Pino

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